Saída da Ford no Brasil: A Ciência na Indústria, por Marcos Campos
Nesse começo de ano, a indústria brasileira recebeu um forte baque: a Ford estaria desativando suas 4 plantas de produção no Brasil. Essa notícia foi usada inúmeras vezes como forma de lembrar a todos sobre o famigerado Custo Brasil de produção. A CNI e a FIESP já soltaram notas afirmando ter o Custo Brasil, um grande peso nas diretrizes estratégicas tomadas pelas matrizes da grande montadora de automóveis. Entretanto, gostaria de dar enfoque em como um fator importante pesou, especificamente, na decisão da Ford de deixar o Brasil: a baixa qualificação da nossa mão de obra.
Ao anunciar a saída da Ford do Brasil, o presidente da companhia na América do Sul citou a falta de adaptabilidade das plantas brasileiras para a produção de carros elétricos. Ou seja, por questões de custos, as plantas brasileiras não conseguiriam se manter para a produção desses carros, cada vez mais demandados, e ainda continuar produzindo os carros à combustão. Ou seja, nossas plantas industriais não possuem o nível de tecnologia necessário para tal, o que afeta a produtividade da indústria brasileira como um todo.
Esse enfoque em produtividade é a grande justificativa para retomarem, durante esse período de saída da multinacional, o discurso de que é necessário fazer uma reforma tributária, investimentos em logísticas, etc. É necessário relembrar então o verdadeiro motivo da saída da Ford: a falta de tecnologia aplicada nas plantas industriais brasileiras. Ou seja, a falta de inovação na nossa indústria fez a Ford sair do país e não o Custo Brasil, apesar de este ter pesado na decisão final.
Em seu livro “Valsa Brasileira”, Laura Carvalho fala como as políticas do Governo Dilma tiveram suas prioridades invertidas ao longo de sua aplicação. Ao invés de aumentarem a produtividade e a competitividade das indústrias brasileiras, essas políticas só serviram para aumentar sua margem de lucro. Inicialmente, conta Laura, a receita líquida dessas empresas seria maior com os menores custos tributários e os subsídios aplicados aos bens primários na cadeia industrial. Entretanto, muitas indústrias não optaram por um reinvestimento dessa maior receita em sua produtividade, mas sim, por uma distribuição societária com maior patrimônio, para garantir maior estabilidade na governança durante o período de crise que se seguiu.
A Crise do Coronavírus é mais uma crise que abala a governança das indústrias brasileiras. E, esse apelo pela diminuição do Custo Brasil, lembra, ligeiramente, as políticas industrialistas ineficazes do Governo Dilma. O investimento e a alocação de recursos federais devem ser feitos não para o aumento da receita líquida das indústrias como meio de aumentar a produtividade da indústria brasileira, mas sim, para o aumento da produtividade em chão de fábrica no Brasil. E isso vem com qualificação e desenvolvimento de novas plantas industriais e com novas tecnologias aplicadas à indústria.
Marcos Campos
Bacharel em Economia na FEA-USP, acredita na Economia como uma ciência essencial para explicar o mundo em que vivemos hoje em dia. Tem grande interesse na área de economia industrial e Economia das empresas e quer seguir estudando esses temas de forma mais aprofundada
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