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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Privatizar tudo?, por Ligia Toneto

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Na última semana as empresas estatais viraram foco do debate político. A pressão sobre a política de preços na Petrobras levou Bolsonaro a trocar a direção da Petrobras de Roberto Castello Branco, do time Chicago Oldies, de Paulo Guedes, por um militar, o General Silva e Luna, gerando rebuliço no mercado se o “neoliberalismo” do governo poderia estar em xeque. Na terça-feira, 23/02, o governo quis provar que seu “raio privatizador” estava bem abastecido, e enviou ao Congresso MP de privatização da Eletrobras. Ler algumas colunas da última semana poderia trazer dúvidas se estamos revivendo a década de 90. Para alguns analistas, mais fiéis aos manuais que à realidade do país, estaríamos diante do “ pecado capital ” do controle de preços e da incapacidade do governo de gerir empresas. Queremos aqui debater esses dois argumentos, nos livrando de verdades absolutas. Como funciona, afinal, a política de preços de combustíveis no Brasil?  Atualmente - desde o governo Temer - a Petrobras ...

Teto de gastos: a jabuticaba ortodoxa, por Lucca Henrique

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          Como pautar a recuperação econômica após a pandemia do Covid-19 é hoje um dos principais assuntos do debate político-acadêmico em Economia. Muito se discute sobre as possibilidades de uma retomada verde (ver MARQUES, 2020), mas quase toda discussão termina se questionando acerca do papel do Estado nesse processo. Organismos multilaterais tradicionalmente conservadores, como o FMI e a OCDE, já se posicionaram a favor dos gastos públicos como elemento fundamental na condução da recuperação. Isso implica, em alguma medida, repensar o desenho das regras fiscais dos países, como afirma Laurence Boone - economista chefe da OCDE. A emenda constitucional 95, popularmente conhecida como Teto de Gastos, é atualmente a principal regra fiscal brasileira.  Essa regra basicamente determina que o crescimento dos gastos públicos deve seguir apenas a taxa de inflação do ano anterior, fazendo com que não exista crescimento real. A medida tem duas principais ...

Desigualdades em movimento: o problema da (falta de) Mobilidade Social no Brasil e a necessidade de se repensar a economia e o tratamento da desigualdade, por Clara Brenck

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O Brasil é sabidamente um país com níveis de desigualdade elevados e persistentes. Durante os anos de 2003 - 2013, parecia surgir uma esperança de que a desigualdade no Brasil finalmente iria diminuir: o salário mínimo real cresceu 73% se deflacionado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o índice de Gini passou de 0.57 em 2003 para 0.52 em 2014, resultado principalmente das políticas de redistribuição de renda dos governos do PT. Contudo, logo após 2014, o país entrou na mais longa crise econômica de sua história que, juntamente com o abandono de algumas das políticas adotadas no período anterior, reverteu os ganhos distributivos deste período. Para piorar a situação, a pandemia do Novo Coronavírus atingiu fortemente a população de baixa renda, em situação de maior exposição e vulnerabilidade ao vírus .  Numa visão dinâmica da economia, a desigualdade pode se traduzir no problema da mobilidade social. A mobilidade social é uma medida não estática da perpetuação da ...

Banco Central e Política Monetária no Brasil: Como funciona?, por Pedro Romero

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Para compreender os detalhes desse processo, é preciso analisá-lo em etapas. Figura 1. Etapa 1: O funcionamento do sistema de pagamentos e as reservas interbancárias Diariamente, várias operações financeiras são realizadas em tempo real, o que determina um fluxo constante de pagamentos entre as instituições financeiras, o Banco Central e os cidadãos que detêm contas bancárias. Para funcionar, essa estrutura é sustentada por um sistema que, sob coordenação do Banco Central, conecta todos os bancos comerciais e permite o fluxo de dinheiro entre eles por via eletrônica. A ideia é a seguinte: o Sistema de Transferência de Reservas (STR) exige que todos os bancos comerciais tenham, eles próprios, uma conta no Banco Central. Nessas contas são depositadas as chamadas reservas bancárias, uma proporção dos depósitos bancários feitos por correntistas de cada instituição que não é utilizada para fornecimento de crédito. As reservas bancárias servem para que os bancos possam realizar transações en...