Sem censo, sem bom senso

Nós, cientistas sociais e estudantes da área, repudiamos profundamente a decisão do Governo Bolsonaro de, em duas tesouradas, cancelar o Censo Demográfico de 2021. Realizada a cada 10 anos pelo IBGE, a pesquisa coleta informações de aproximadamente 70 milhões de domicílios e trata-se do mais importante instrumento balizador da formulação e implementação de políticas públicas no Brasil.

O Censo constitui a única fonte de referência sobre a situação de vida de toda a população brasileira. É o primeiro instrumento estatístico a colocar sob a lupa a realidade desses brasileiros. E não só isso -- porque o Censo também é essencial para transformar essas realidades. É pelos dados do Censo que dimensionamos a necessidade de políticas sociais e de transferência de renda e também por meio dele que  se define o montante de recursos a ser distribuído pela União a cada município e Estado.

O orçamento de 2021, aprovado com mais de quatro meses de atraso e com cortes em diversas áreas essenciais - meio ambiente, ciência e tecnologia, saúde, educação etc. - acabou também com a possibilidade da realização do Censo este ano. O orçamento para a pesquisa era de R$2 bilhões de reais, e foi cortado para R$50 milhões, depois de uma nova tesourada do governo Bolsonaro, sancionada por Lira no Congresso.

Com menos de 1% do valor previsto, a pesquisa se torna inviável. A qualidade dos dados produzidos pelo censo é consequência do trabalho de milhares de pesquisadores e recenceadores, que desenham e colocam em prática um modelo de coleta de dados que preserva o rigor estatístico. Não é algo que possa ser replicável com um formulário online, como alguns pouco preocupados com a legitimidade da pesquisa sugeriram nos últimos dias.

Infelizmente, essa notícia segue a tônica de um governo que desde o início se mostrou anticiência, antieducação e antipovo. O Orçamento Público é, acima de tudo, um mecanismo de planejamento e definição de prioridades. Desde 2019, a tesoura de Guedes foi afiada quando o assunto é Ciência, Pesquisa e Educação -- sempre no fim da lista de prioridades do Governo. 

Equipe Desajuste


 


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